Guarda avançada de Lisboa, a quem garantia protecção na entrada da barra marítima do Rio Tejo, Cascais foi sempre uma das peças fundamentais da estratégia defensiva da capital. Por isso, e ao longo de toda a sua História, foram muitas as estruturas defensivas que aqui foram construídas e os regimentos de homens que as vieram ocupar. Num périplo pelas fortificações marítimas e pela arquitectura militar, maravilhe-se com a forma como as pedras duras e as muralhas se espraiam em horizontes azuis repletos de sol e no recorto românticos das pequenas enseadas que outrora tiveram de guardar…
Trajecto:
Comece
o seu passeio e admire o Forte do Facho em frente à Boca do Inferno. Siga pela
Avenida Rei Humberto II de Itália e vire à direita no Beco do Farol até
encontrar o portão do Farol de Santa Marta. Atravesse a ponte a contorne a
fortaleza até chegar à Avenida Dom Carlos I. Saia da Fortaleza de Cascais e
vire para a Rua Tenente Valadim e encontre a antiga porta do Castelo de Cascais
e os restos a muralha. Desça a Rua Marques Leal Pancada até à praia, atravesse
a esplanada e siga pela Rua Fernandes Thomaz, Rua da Saudade e Rua Frederico
Arouca até ao Hotel Albatroz. Observe o antigo Baluarte de Nossa Senhora da
Conceição onde está o Palacete Palmela. Continue pelo paredão até ao Estoril e
admire o antigo Forte de Santo António da Assubida (actual Palacete Barros). Vire
à esquerda contornando o Palacete Barros e suba a Rua de Olivença até encontrar
o Forte Velho ou de São Pedro da Poça. Do outro lado da Praia da Poça, numa
arriba sobranceira ao mar, está o Forte de São Teodósio da Cadaveira. Seguindo
pela marginal, encontrará o Forte de Santo António da Barra a cerca de 1300
metros do seu lado direito.
01) Vigia do Facho / Boca do Inferno
Data
de 1793 e é a única torre de vigia que subsiste do antigo sistema defensivo da
Costa de Cascais. Servindo para reforçar a capacidade de observação da costa em
ângulos de menor visibilidade, estas torres eram edificadas entre os fortes que
guardavam os principais ancoradouros e eram equipados com um destacamento
formado por um Cabo e por um Soldado.
02) Forte de Santa Marta
Construído
no Século XVII por ordem de D. Luís de Menezes, o Forte de Santa Marta
erguia-se junto ao espaço onde actualmente se encontra o farol. Os vestígios de
muralhas que ainda subsistem são o que sobra da estrutura defensiva original
que guardava a possibilidade de utilização da denominada Ponta do Salmodo para
um eventual desembarque inimigo em Cascais. Há ainda notícia da existência
neste mesmo espaço de uma antiga ermida do Século XVI dedicada a Santa Marta.
03) Cidadela de Cascais e Fortaleza de Nossa Senhora da Luz
Composta
por várias fortificações construídas ao longo de várias épocas, a actual
Fortaleza de Cascais compõe-se de vários espaços com forte impacto na paisagem
e um grande interesse para uma visita. Na sua componente mais antiga, pode
ver-se a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, datável do Século XV, que foi
posteriormente reformulada durante a Dinastia Filipina (Século XVI) e durante o
reinado de Dom João IV (Século XVIII). No Século XIX, a partir de 1870, a
antiga Casa do Governador foi adaptado a Palácio Real, ali se instalado o Rei
Dom Luís I e depois o seu filho Dom Carlos, durante o período estival.
Importante é ainda a Capela de Nossa Senhora da Vitória, muito liga ao culto a
Santo António.
Quando
em 1364 Cascais recebeu a sua Carta de Foral atribuída pelo Rei Dom Pedro, já a
Vila possuía um castelo antiquíssimo que lendariamente remontava ao período da
dominação árabe. Apesar de quase completamente destruído com o terramoto de
1755, subsistem ainda hoje alguns troços de muralha e a porta principal, junto
à qual, durante muitas gerações, se reuniam os homens-bons do Concelho, para
tomarem em conjunto as principais decisões de que a terra necessitava.
05) Baluarte de Nossa Senhora da Conceição / Casa Palmela
A
construção do Baluarte de Nossa Senhora da Conceição, consta no Plano de
Fortificação da Costa de Cascais, da autoria de Luís de Menezes e foi
construído em meados do Século XVII. Situado estrategicamente num esporão sobre
o mar, controlava os eventuais desembarques que poderiam acontecer no areal da
Praia da Conceição e, a Nascente, em toda a linha de costa que se estendia até
ao Estoril. No Século XIX foi vendido em hasta pública à Família Palmela e
totalmente reformulado para habitação.
06) Forte de Santo António da Assubida / Palacete Barros
A
fortificação original, denominada Forte de Santo António da Assubida e também
conhecido como Forte da Cruz de Santo António da Subida, data do Século XVII e
tinha como função principal o controle ao areal da actual Praia do Tamariz,
cruzando fogo com o antigo Forte do Juncal que se situava onde hoje se encontra
o Palacete Tamariz. No Século XX foi adquirido em hasta pública por João
Martins de Barros que o demoliu, tendo sido construído no seu lugar o Palacete
Barros com projecto do Arquitecto Cezane Ianz.
07) Forte Velho / Forte de São Pedro da Poça
Construído
em 1642, depois da Restauração da Independência, estava ligado ao antigo Forte
de São João através de uma muralha defensiva que protegia o areal da Praia da
Poça, em São João do Estoril. A partir de 1947 e depois de muitas utilizações
pontuais, foi entregue à então Junta de Turismo da Costa do Estoril que o
transformou numa das mais requintadas e conhecidas casas de chá da região.
08) Forte de São Teodósio da Cadaveira
Originalmente
envolvido de todos os lados por uma cortina de trincheiras, que funcionava como
primeira linha de defesa, o Forte de São Teodósio da Cadaveira foi uma das mais
importantes peças da estrutura defensiva da Costa de Cascais. Construído em
1642, integrado no reforço defensivo promovido por D. João IV depois da
Restauração da Independência, perdeu as suas funções militares durante o Século
XIX e está abandonado praticamente desde a construção da Avenida Marginal, em
1940, cujas obras obrigaram à demolição das suas estruturas de apoio.
Foi
construído no final do Século XVI por ordem do Rei Espanhol D. Filipe II com
projecto assinado por Vicenzio Casale. No princípio do Século XX é adaptado a
colónia de férias do Instituto Feminino de Educação e Trabalho de Odivelas. A partir
de 1968 ficou directamente ligado à História de Portugal, por ter sido ali que
o Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, teve o
acidente durante as férias que o afastou do governo e lhe causou a morte.
HENRIQUES, João Aníbal, Levantamento Exaustivo do Património Cascalense, Cascais, Fundação Cascais, 2000