sexta-feira

A “Ruinização” de Portugal e o Fenómeno da "Casa do Emigrante"




por João Aníbal Henriques 

Numa época em que o interior Norte do País se enche de cor e alegria com a chegada dos emigrantes que regressam ao País para algumas semanas de férias, importa (re)pensar o fenómeno da dita “casa do emigrante” que, um pouco por todo o território nacional, vai marcando a paisagem com os tons poucos sóbrios das fachadas atapetadas de azulejos e das correntes penduradas nos beirais. 

Carregando consigo usos e costumes que foram adquiridos ao longo dos anos passados no estrangeiro, e literalmente gemendo o suor de muitos anos de trabalho árduo e em más condições, as casas dos emigrantes são, na generalidade dos casos, o símbolo mais sentido do êxito que se alcançou lá fora. São elas que reforçam os vínculos com a terra natal, pois para ali se canalizam as poupanças de uma vida inteira e os sonhos de um regresso que se vai adiando, e que garantem a continuidade da ligação a Portugal mesmo depois da morte dos progenitores que se vinham visitar ano após ano. 




A geração que construiu a maior parte destas casas, genericamente nos anos 70 e 80 do século passado, está agora ela própria a atingir uma idade mais provecta, diminuindo o ritmo das visitas e a sua duração. Desaparecidos os avós e os laços emocionais que com eles haviam criado, as novas gerações compostas por filhos e netos dos construtores de há 30 e 40 anos, vão perdendo paulatinamente a ligação a Portugal. E mesmo quando continuam a vir, já com uma preparação social e cultural diferente daquela que caracterizava os seus pais, preferem os destinos mais turísticos e os bons hotéis onde se encontram as regalias merecidas para uns boas férias cá dentro. 

E as casas, que enchem a paisagem, vão ficando cada vez mais fechadas, com a morte dos seus cuidadores e o cada vez maior distanciamento dos seus proprietários que também já vão desaparecendo. As imobiliárias, principalmente no Norte do país, têm centenas de casas destas à venda por preços baixíssimos, mas poucos são aqueles que se interessam pela aquisição de imóveis deste género, o que contribui para consolidar o estado geral de degradação a que muitos deles vão chegando. 




Com cada vez menos probabilidades de virem a ser ocupadas por emigrantes que regressam ou pelos filhos deles, parece que estão condenadas a um paulatino processo de “ruinização” irreversível. Quebrando-se os laços à medida em que as gerações vão correndo, transformam-se em monos sem utilidade que poucas hipóteses têm de vir a ser recuperados ou ocupados novamente. 

Serão mais um contributo para reforçar o Portugal moribundo em que infelizmente o nosso País se vai transformando.