Nas vésperas de mais um
aniversário da revolução de 1974, no meio de uma pretensa guerra feroz entre os
partidos que controlam a democracia, eis que PSD, PS e CDS se juntam para
alterar as regras que determinam a forma como a comunicação pode cobrir as campanhas
eleitorais.
Os três partidos, que foram
capazes de gerar consensos em torno desta temática, pretendem passar a intervir
directamente na liberdade de informação, condicionando os jornais e os
jornalistas à apresentação de um plano prévio que será autorizado (ou não) por
uma comissão dita independente que será composta por três elementos- dois da Comissão Nacional de Eleições e um
da Entidade Reguladora para a Comunicação Social – que conforme facilmente se percebe, são
escolhidos por eles… ou seja, com esta proposta, os partidos políticos que
controlam o poder passam a controlar também o que pode e como pode a
comunicação social informar os Portugueses! Com esta surpreendente proposta,
deixa de existir liberdade de informação, voltando a haver uma versão “normalizada”,
“controlada” e “adaptada” dessa mesma realidade, evitando assim que Portugal e
os Portugueses possam conhecer o que realmente vai acontecendo. O regresso de
uma espécie de “visto prévio” sem o lápis azul!
Contado
desta maneira, quase parece mentira que tenha sido possível chegar-se a este
ponto. Conhecendo os partidos em questão, com as dúvidas que o PSD tem
apresentado relativamente à confiança que lhe merece o CDS; com a irrevogável
incapacidade demonstrada pelo CDS para corresponder com transparência aos
desafios que lhe são colocados pelos Portugueses; e com um PS literalmente a
navegar na maionese sem ser capaz de apresentar uma alternativa politicamente
credível aos Portugueses; todos perceberam que nenhum deles representa quem
quer que seja e que, por isso, estão condenados a desaparecer paulatinamente
dos laivos e resquícios de democracia que ainda sobrevivem neste País
sui-generis. E imediatamente foram capazes de se sentar juntinhos à mesa para
cozinhar este acordo que põe em causa a liberdade dos Portugueses…
Parece mentira. Mas infelizmente não é.