A importância da TAP é em
primeira instância estratégica. Mais do que o interesse comercial que
eventualmente poderia ter para o País, ou o interesse logístico no assegurar
ligações que estivessem em linha com as necessidades dos Portugueses,
estrategicamente a existência de uma companhia Nacional de bandeira, como a TAP
ainda é, cumpre o objectivo de reforçar a autonomia de Portugal e de sublinhar
a independência do País perante interesses terceiros que contra ele se
levantem.
Por isso (e somente por isso) se
justifica que o Estado tenha, ao longo de muitos anos, vindo a cobrir prejuízos
acumulados de muitos milhões que, a coberto do seu interesse público, põem
todos os Portugueses a sustentar a sobrevivência da companhia.
Sabendo-se agora que é insolúvel e
insustentável esta situação, numa altura em que o Estado se debate com
problemas orçamentais gravíssimos e em que os Portugueses já não têm condições
para suportar novos aumentos que serviriam para sustentar a transportadora, a
única solução possível e viável é a privatização que este governo (finalmente)
teve a coragem de decidir e concretizar.
Num cenário como este, como é
evidente, assume especial importância a componente comercial do negócio. Ou
seja, quem vier a comprar a TAP (se alguém ousar fazê-lo) fá-lo-á
exclusivamente por esse ser um negócio potencialmente interessante e certamente
rentável (o que a TAP já provou que neste modelo de gestão pública não
consegue). E, mais importante ainda, será concretizado contornando os
interesses Nacionais acima descritos, por os mesmos não serem compatíveis com a
componente comercial que este negócio terá obrigatoriamente de ter.
Ora com esta greve anunciada,
sustentada num direito consagrado na Lei, os pilotos da TAP comprometem os
interesses estratégicos que de alguma forma explicavam a existência da
companhia. E, por outro lado, comprometem simultaneamente os interesses
comerciais que eventualmente poderiam conduzir a uma privatização que salvaria
a empresa. Com este acto, dão razão àqueles que discordavam do facto de os
Portugueses andarem a pagar milhões de Euros para sustentar a TAP e
simultaneamente fazem-no também com aqueles que, sendo contra a privatização,
defendem uma profunda reestruturação da companhia, vendendo aviões e
equipamentos, despedindo funcionários e adaptando-se a uma dimensão que esteja
em linha com as suas reais capacidades.
Com esta greve, que mesmo que
venha a ser desconvocada está a provocar danos que terão profundas repercussões
na sobrevivência da empresa, os pilotos estão a condenar a TAP a uma única
saída possível: despedimento colectivo e o encerramento da mesa.
Dadas as circunstâncias, a irresponsabilidade, o desrespeito e o egoísmo que esta greve configura, só nos resta defender que assim aconteça. Mas que o seja de forma imediata e rápida, evitando mais prejuízos para Portugal e para os Portugueses.