Está novamente em curso o
Orçamento Participativo de Cascais. A edição deste ano, composta por 20
projectos finalistas, vai pôr os cascalenses a votar através de SMS’s nas
iniciativas que lhes parecem mais importantes, como se fosse um concurso
televisivo em que uns ganham e outros perdem.
E se fossem somente pequenos
projectos pessoais que fossem a jogo, tentando assim a sua sorte para poderem
usufruir de uma parcela dos dinheiros públicos necessários à sua concretização,
não haveria problema de maior, podendo até considerar-se que o dito concurso
estimularia a imaginação e a criatividade dos Cascalenses para desenvolverem
ideias diferentes.
Mas não. Os projectos a concurso
são quase todos necessidades primárias do Concelho de Cascais e são parte
integrante do conjunto de obrigações que o município assume enquanto entidade
eleita para gerir o espaço público e zelar pelo erário que pertence a todos os
Cascalenses.
Ou seja, a generalidade dos
projectos que se sujeitam a este concurso, são coisas que todos os cascalenses
esperam que a Câmara Municipal de Cascais concretize imediatamente e dos quais
depende o bem-estar e a qualidade de vida no Concelho.
Mas o grande problema é que, como
concurso que é, uns ganham e outros perdem… e, aqueles que tiverem menos amigos
dispostos a pegar no seu telemóvel para mandar o SMS, estão condenados a não
ver cumprida a sua vontade.
E agora, dos 20 projectos a
concurso, imagine-se, por exemplo que não ganha o nº2… pois, a consequência é
que não vai ser construído o muito necessário passeio entre a Charneca e a
Malveira na EN9! E se perder o nº 8, não se farão as muito necessárias obras de
restauro na Capela da Conceição da Abóboda! E se perder o nº 17, os Bombeiros
de Alcabideche não vão ter as suas tão necessárias ambulâncias de suporte
básico de vida! E se perder o nº 24, serão os Bombeiros de São Domingos de Rana
que não terão um Veículo Urbano de Combate a incêndios! E se perder o nº 28, a
Escola Básica de Carcavelos não terá um telheiro! E se perder o nº 36, os Bombeiros
da Parede-Carcavelos continuarão a correr risco sérios de saúde porque não
serão retirados os painéis de amianto dos telhados da sua sede! E se perder o
nº 39, veja-se lá que a Villa Romana de Freiria, classificada como Imóvel de
Interesse Público desde 1997 e que se encontra num estado de inconcebível
desleixo, não será reabilitada!
Para além de muitos outros
exemplos, cada qual mais inconcebível.
A boa notícia é que alguém vai
ganhar o concurso deste ano. No meio de um cenário mediático e envolvido por
uma boa dose de propaganda, alguém vai ter a sorte de ver resolvida uma destas
necessidades primárias.
Os outros... bem… se precisarem
mesmo de uma ambulância, de um carro de bombeiros ou de um passeio na sua terra
têm bom remédio: tentem novamente para o ano!