Apesar as controvérsias, das
discórdias, das polémicas mediáticas, das diferenças de opinião e de todo o
conjunto de interesses que dão corpo a este sistema eleitoral partidarizado e
pouco democrático que temos (é preciso lembrar que os Portugueses nem sequer
são livres de escolher o(s) deputado(s) que os vai representar na Assembleia da
República e que, à laia de embuste, são obrigados a fazer uma selecção daqueles
que são escolhidos pelos partidos), existe uma conclusão óbvia, linear e
inquestionável das eleições legislativas que decorreram no passado dia 4 de
Outubro: o vencedor foi a coligação entre o PSD e o CDS.
Tiveram mais votos e ganharam as
eleições. E, por isso, deveriam ter sido indicados pelo Presidente da República
para formarem governo. Depois, com é evidente, os 230 deputados que compõem a
assembleia logo decidiriam o que fazer, e arcariam com a responsabilidade da(s)
sua(s) decisões perante Portugal e os portugueses.
Mas Cavaco Silva, uma vez mais
estragou tudo. Quando devia simplesmente ter procedido à indigitação do
vencedor das eleições para formar governo, calando-se de seguida de maneira a
garantir o normal funcionamento das instituições, proferiu um discurso absurdo
e completamente descontextualizado, com laivos de uma raiva que põe em causa a
isenção e o distanciamento que o presidente deve ter em relação às escolhas dos
portugueses.
Ao fazê-lo, Cavaco Silva
condicionou de maneira inconcebível o universo partidário e gerou um sentimento
de desconforto que põe em causa os interesses de Portugal.
Agora, que o mal está feito, há uma coisa que importa sublinhar para que ninguém no futuro se venha a esquecer: Cavaco Silva é o responsável por tudo aquilo que vier a acontecer aos Portugueses. E deve ficar na história com esse ónus. Porque a decisão foi dele.