por João Aníbal Henriques
Magnificamente implantada no
coração da Cidade de Santarém, a Igreja de Nossa Senhora da Graça, comummente
designada como Igreja de Santo Agostinho, é um dos mais importantes e
impactantes monumentos religiosos do Ribatejo.
O edifício, originalmente
construído no Século XIV, é um dos mais belos exemplares da arquitectura gótica
em Portugal. Com as suas três naves, iluminadas de forma sublime por um
conjunto de janelas em ogiva, apela de forma profunda à concepção mais
iluminada de Deus, aqui entendido na inteira perfeição que os raios de luz
projectam no espaço.
Na fachada principal, num misto
de harmonia e profundidade cénica, o gótico flamejante relembra a audácia
expressa igualmente em Santa Maria da Batalha, num cruzamento que sublinha a
arcaria da porta com a enorme rosácea duplamente significante no
estabelecimento de uma relação profunda com quem vê o monumento a partir da rua
mas, sobretudo, para quem dele frui interiormente.
O espaço onde o edifício foi construído,
simbolicamente relevante no contexto da geometria urbana da Cidade de Santarém,
pertencia ao primeiro Conde de Ourém, D. João Afonso Telo de Meneses, e a sua
mulher D. Guiomar de Vilalobos, que o doaram aos padres mendicantes de Santo
Agostinho. Desta maneira, também com um cunho simbólico de relevo, se
estabelece a relação entre a fina-flor da aristocracia escalabitana e a
deambulante pregação dos frades que aqui se estabeleceram, multiplicando de
forma exponencial o apelo à iluminação celestial e estabelecendo uma verdadeira
escada de acesso ao céu.
Nesse prisma, é de primordial interesse
a interpretação escatológica que deriva do monumento, assente na primeira
concepção de um espaço que pretende salvar quem a ele acorre em busca de um laivo
de esperança e discernimento…
A Igreja de Nossa Senhora da
Graça, nesta vertente de eixo religioso do coração Ribatejano, evoca assim a
função mais hermética da Igreja Católica Romana, que assume o apostolado como
um desígnio sagrado e, dessa maneira, procura em permanência as estratégias
mais céleres para alcançar o sucesso no cumprimento desse desiderato.
Caldeirão alquímico no sentido mais lato da forma que dele emerge, o espaço deste templo organiza-se à semelhança de um portal, orientando o fiel no seu caminho – sempre pessoal e em adoração a Deus – para o céu.
Aproveitada como panteão
privativo da família Telo de Meneses, estando ali sepultados em túmulo duplo o
casal de fundadores, a Igreja da Graça é ainda espaço de repouso eterno para
Pedro Álvares Cabral, o assumido achador do Brasil.
Pela sua forma, pujança e
qualidade histórica e artística, mas também pelo profundo simbolismo que
carrega, a Igreja de Santa Maria da Graça, em Santarém, é motivo de grande
interesse para todos os que se aventurem na árdua tarefa de conhecer e
compreender Portugal.