por: João Aníbal Henriques
Ao contrário do que muitos esperavam, foram um êxito estrondoso as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa.
A indiferença perante o acontecimento mediático e o circo que se montou, aliado à falta de critérios, projectos, ideias sustentadas e visão real sobre o planeamento e a gestão futuros da cidade, foram a principal marca daquele que será, porventura, um dos mais importantes acontecimentos da Lisboa contemporânea.
O índice de abstenção, semelhante em termos de tendência àquele que se tem vindo a verificar paulatinamente de eleição em eleição, bateu quase todos os recordes, e os que foram votar, mostrando discernimento e capacidade de entender os muitos cenários que se poderiam colocar, escolheram faze-lo de forma minuciosa e cuidada, dando a cada um dos 12 candidatos aquilo que mereciam receber.
Vamos analisar um por um:
António Costa – O Vencedor…
Desde logo cantou bem alto a sua vitória… e o que é que ele ganhou? Ganhou uma câmara sem maioria, através de um plebiscito em que o apoiaram nas urnas 57.907 cidadãos de Lisboa. É fácil de perceber que correspondem a pouco mais de 10% da população e que, pela primeira vez em 33 anos, vamos ter um Presidente da Câmara eleito por 10% dos eleitores. Mas isso retira-lhe legitimidade? É óbvio que não… apesar de ter diminuído a cotação em relação ao derrotado de 2005 (Manuel maria carrilho teve 75.022 votos), António Costa foi o mais votado de todos os pobres candidatos que os lisboetas resolverem pura e simplesmente desprezar. E qual é a sua representatividade efectiva? É fácil de perceber que ronda os tais 10% de pessoas que nele votarem, e não está muito longe daquela que caracteriza o Governo e muitos dos demais órgãos de soberania…
Carmona Rodrigues – O Herói…
Contra o partido que o elegeu em 2005; contra os restantes partidos que nele encontraram o “bode espiatório” para todos os males de Lisboa que eles próprios haviam criado; contra a comunicação social e os muitos lobbies e grupos de interesse que entendiam um bom resultado seu como uma possível machadada no seu poder e capacidade de imporem soluções para a Cidade, Carmona Rodrigues conseguiu a proeza de conquistar o segundo lugar, à frente do partido que minou o seu trabalho, e com imenso apoio popular. Sem querer entrar no campo das suposições, que nos levariam a um cenário de eleições participadas e com baixa taxa de abstenção que certamente aumentariam de forma exponencial o seu resultado e (provavelmente) lhe dariam a vitória, há que sublinhar que foi, de facto, um vencedor, mostrando a Portugal e aos portugueses que vale a pena manter a isenção, a independência e o rigor que só a sua seriedade de português lhe podem garantir.
Fernando Negrão – Qual?...
Fernando Negrão e o PSD merecem poucos comentário após o descalabro que motivaram na Câmara de Lisboa. Em relação ao partido pouco há a dizer… criou a situação ao colocar os interesses da sua estrutura à frente dos interesses da Cidade, e os lisboetas penalizaram-no por isso. Talvez a única preocupação que subsiste seja a de imaginarmos o cenário que espera este partido nas legislativas de 2009… é que, apesar do seu carácter inócuo, dentro desta ditadura partidarizada em que vivemos, é a única solução que resta como alternativa a um PS escandalosamente anti-Portugal! Quanto a Negrão, a situação é ainda mais terrível. Candidatou-se a Setúbal. Perdeu quando se percebeu que nada tinha a dar à cidade e… fugiu dali, provando que tinham razão todos aqueles que criticaram a sua candidatura contra natura. Depois foi uma recambolesca passagem pelo Governo, abordando temas, assuntos e áreas que não eram as suas e que, mesmo com o seu ar simpático e competente, comprometeram ainda mais a já enfraquecida credibilidade que trazia das margens do Sado. E por fim, quando tal deveria ser a última coisa a fazer, resolveu vir para Lisboa… Lisboa? Mas porquê? Então mas o Homem não tinha garantido ainda há 2 anos que o seu coração estava em Setúbal? Não se consegue perceber…
Telmo Correia – O Outro…
Um dos inesperados protagonistas da noite foi Telmo Correia e o CDS-PP… Pugnando com rigor, disciplina, serenidade, seriedade e empenho por um projecto novo para Lisboa (digo isto acreditando verdadeiramente que se Telmo Correia fosse eleito presidente com maioria absoluta Lisboa tornar-se-ia uma das cidade de referência no contexto europeu), não percebeu uma das mais importantes e evidentes premissas da democracia em Portugal: a Direita, com os seus valores e princípios, não gera votos em quantidade suficiente para ganhar eleições. Por isso, a reboque das gananciosas pretensões ao poder do seu popular presidente de partido, acabou por deixar de lado aquele que seria (ou deveria ser) um dos principais objectivos de todo o empenhamento que colocou na candidatura: unir a direita portuguesa a partir de Lisboa. E é fácil entender que, juntando os seus votos com os de Manuel Monteiro (ainda se podiam juntar os de outros candidatos menos ortodoxos que também acreditam, pugnam e zelam por Portugal e pelos portugueses), Telmo Correia não só seria eleito, como possivelmente conseguiria, com esse facto, fomentar uma dinâmica nova que servisse de ensejo para consolidar uma Direita responsável, consciente, e… assumidamente alheada da partidarite viciosa à qual acorrentaram Portugal.
Os restantes…
O que dizer sobre todos os outros? Possivelmente nada. Da pseudo-independente Helena Roseta (ex-PSD e ex-PS); ao comunista Rúben de Carvalho; ao inconsequente José Sá Fernandes; ao indefectível Garcia Pereira; ao cantor da Câmara Pereira; ou ao iludido Manuel Monteiro; vai um caminho curto e insidioso. Todos eles participaram no sistema e contribuíram, com o seu trabalho, para credibilizar um acto que contraria os interesses reais de Lisboa, dos lisboetas, de Portugal e dos portugueses. Os números falam por si, e se cada um deles for ver com atenção quantas foram as pessoas que se deram ao trabalho de votar em si, verão que tudo o que fizeram não merece sequer uma palavra…
Conclusão:
Apesar de tudo, de todos, de Portugal, da nossa comunidade, dos atropelos à democracia que todos dizem defender, as eleições para a Câmara de Lisboa realizaram-se. Gastou-se uma verba substancial do erário público; comprometeram-se investimentos que eram essenciais para o desenvolvimento do País; e descredibilizou-se ainda mais uma classe política ávida de poder mas vazia de projectos.
A partir de agora, com a vitória que conseguiram nestas eleições, os 62,61% de lisboetas que decidiram (e bem) não ir votar, deram todas as informações de que necessitávamos para modificar finalmente este nosso Portugal. Esperemos que, percebendo a mensagem e ao contrário do que se passou em 1974, o povo não tenha de vir à rua para devolver Portugal aos portugueses…
A indiferença perante o acontecimento mediático e o circo que se montou, aliado à falta de critérios, projectos, ideias sustentadas e visão real sobre o planeamento e a gestão futuros da cidade, foram a principal marca daquele que será, porventura, um dos mais importantes acontecimentos da Lisboa contemporânea.
O índice de abstenção, semelhante em termos de tendência àquele que se tem vindo a verificar paulatinamente de eleição em eleição, bateu quase todos os recordes, e os que foram votar, mostrando discernimento e capacidade de entender os muitos cenários que se poderiam colocar, escolheram faze-lo de forma minuciosa e cuidada, dando a cada um dos 12 candidatos aquilo que mereciam receber.
Vamos analisar um por um:
António Costa – O Vencedor…
Desde logo cantou bem alto a sua vitória… e o que é que ele ganhou? Ganhou uma câmara sem maioria, através de um plebiscito em que o apoiaram nas urnas 57.907 cidadãos de Lisboa. É fácil de perceber que correspondem a pouco mais de 10% da população e que, pela primeira vez em 33 anos, vamos ter um Presidente da Câmara eleito por 10% dos eleitores. Mas isso retira-lhe legitimidade? É óbvio que não… apesar de ter diminuído a cotação em relação ao derrotado de 2005 (Manuel maria carrilho teve 75.022 votos), António Costa foi o mais votado de todos os pobres candidatos que os lisboetas resolverem pura e simplesmente desprezar. E qual é a sua representatividade efectiva? É fácil de perceber que ronda os tais 10% de pessoas que nele votarem, e não está muito longe daquela que caracteriza o Governo e muitos dos demais órgãos de soberania…
Carmona Rodrigues – O Herói…
Contra o partido que o elegeu em 2005; contra os restantes partidos que nele encontraram o “bode espiatório” para todos os males de Lisboa que eles próprios haviam criado; contra a comunicação social e os muitos lobbies e grupos de interesse que entendiam um bom resultado seu como uma possível machadada no seu poder e capacidade de imporem soluções para a Cidade, Carmona Rodrigues conseguiu a proeza de conquistar o segundo lugar, à frente do partido que minou o seu trabalho, e com imenso apoio popular. Sem querer entrar no campo das suposições, que nos levariam a um cenário de eleições participadas e com baixa taxa de abstenção que certamente aumentariam de forma exponencial o seu resultado e (provavelmente) lhe dariam a vitória, há que sublinhar que foi, de facto, um vencedor, mostrando a Portugal e aos portugueses que vale a pena manter a isenção, a independência e o rigor que só a sua seriedade de português lhe podem garantir.
Fernando Negrão – Qual?...
Fernando Negrão e o PSD merecem poucos comentário após o descalabro que motivaram na Câmara de Lisboa. Em relação ao partido pouco há a dizer… criou a situação ao colocar os interesses da sua estrutura à frente dos interesses da Cidade, e os lisboetas penalizaram-no por isso. Talvez a única preocupação que subsiste seja a de imaginarmos o cenário que espera este partido nas legislativas de 2009… é que, apesar do seu carácter inócuo, dentro desta ditadura partidarizada em que vivemos, é a única solução que resta como alternativa a um PS escandalosamente anti-Portugal! Quanto a Negrão, a situação é ainda mais terrível. Candidatou-se a Setúbal. Perdeu quando se percebeu que nada tinha a dar à cidade e… fugiu dali, provando que tinham razão todos aqueles que criticaram a sua candidatura contra natura. Depois foi uma recambolesca passagem pelo Governo, abordando temas, assuntos e áreas que não eram as suas e que, mesmo com o seu ar simpático e competente, comprometeram ainda mais a já enfraquecida credibilidade que trazia das margens do Sado. E por fim, quando tal deveria ser a última coisa a fazer, resolveu vir para Lisboa… Lisboa? Mas porquê? Então mas o Homem não tinha garantido ainda há 2 anos que o seu coração estava em Setúbal? Não se consegue perceber…
Telmo Correia – O Outro…
Um dos inesperados protagonistas da noite foi Telmo Correia e o CDS-PP… Pugnando com rigor, disciplina, serenidade, seriedade e empenho por um projecto novo para Lisboa (digo isto acreditando verdadeiramente que se Telmo Correia fosse eleito presidente com maioria absoluta Lisboa tornar-se-ia uma das cidade de referência no contexto europeu), não percebeu uma das mais importantes e evidentes premissas da democracia em Portugal: a Direita, com os seus valores e princípios, não gera votos em quantidade suficiente para ganhar eleições. Por isso, a reboque das gananciosas pretensões ao poder do seu popular presidente de partido, acabou por deixar de lado aquele que seria (ou deveria ser) um dos principais objectivos de todo o empenhamento que colocou na candidatura: unir a direita portuguesa a partir de Lisboa. E é fácil entender que, juntando os seus votos com os de Manuel Monteiro (ainda se podiam juntar os de outros candidatos menos ortodoxos que também acreditam, pugnam e zelam por Portugal e pelos portugueses), Telmo Correia não só seria eleito, como possivelmente conseguiria, com esse facto, fomentar uma dinâmica nova que servisse de ensejo para consolidar uma Direita responsável, consciente, e… assumidamente alheada da partidarite viciosa à qual acorrentaram Portugal.
Os restantes…
O que dizer sobre todos os outros? Possivelmente nada. Da pseudo-independente Helena Roseta (ex-PSD e ex-PS); ao comunista Rúben de Carvalho; ao inconsequente José Sá Fernandes; ao indefectível Garcia Pereira; ao cantor da Câmara Pereira; ou ao iludido Manuel Monteiro; vai um caminho curto e insidioso. Todos eles participaram no sistema e contribuíram, com o seu trabalho, para credibilizar um acto que contraria os interesses reais de Lisboa, dos lisboetas, de Portugal e dos portugueses. Os números falam por si, e se cada um deles for ver com atenção quantas foram as pessoas que se deram ao trabalho de votar em si, verão que tudo o que fizeram não merece sequer uma palavra…
Conclusão:
Apesar de tudo, de todos, de Portugal, da nossa comunidade, dos atropelos à democracia que todos dizem defender, as eleições para a Câmara de Lisboa realizaram-se. Gastou-se uma verba substancial do erário público; comprometeram-se investimentos que eram essenciais para o desenvolvimento do País; e descredibilizou-se ainda mais uma classe política ávida de poder mas vazia de projectos.
A partir de agora, com a vitória que conseguiram nestas eleições, os 62,61% de lisboetas que decidiram (e bem) não ir votar, deram todas as informações de que necessitávamos para modificar finalmente este nosso Portugal. Esperemos que, percebendo a mensagem e ao contrário do que se passou em 1974, o povo não tenha de vir à rua para devolver Portugal aos portugueses…