Os escolhos nos quais se
compõe a História cruzam histórias com vidas e com os sonhos que dão corpo à
própria existência da humanidade. É nesses espaços oblíquos que transpiram de
realidade que se guardam as memórias dos sabores, dos aromas e das cores que
serviram de cenário aos acontecimentos que marcaram o devir do Homem.
Mas a História, normalmente
incapaz de se afastar do concreto, perde-se quase sempre destes laivos do Mundo
real, acautelando-se nos factos inquestionáveis e esquecendo essa plêiade de
cores que envolveram os homens e as mulheres que os viveram e os sentiram
Em “Angola – As Ricas Donas”,
Isabel Valadão volta a mostrar que, com coragem e determinação, é possível
enveredar por este caminho sinuoso que nos faz retroceder no tempo e no espaço.
Mostra-nos uma Angola que combina os factos da História com as histórias que
envolveram os factos, preenchendo com a emoção própria dos acontecimentos que
nos enchem os sentidos o espaço vazio que nos afasta dos factos e da História
real…
O carácter irracional da
escravatura e do processo histórico que deu forma à sua abolição, cruza-se aqui
com a história pessoal das ricas donas, dando vida a uma sociedade angolana
marcada pelos anseios próprios de um espaço no qual se misturam gentes,
projectos, sonhos e expectativas, e recriando um espectro de cores que nos
devolve ao prazer de conhecer a História deste local.
Para quem conhece ou
conheceu Angola, este novo romance histórico de Isabel Valadão permite-nos voltar àquele espaço tão especial. Para os outros, que não tiveram a sorte de
experienciar Angola, o livro permite saltar sobre o pragmatismo da História
para mergulhar apaixonadamente num universo real e profundamente dramático, apercebendo-se do requinte dos detalhes e de todos os pequenos pormenores que permitem sentir o seu carácter de excepção.
Reunir a História e as
histórias é a arte com a qual Isabel Valadão tece esta sua nova obra. Numa
excelência narrativa que prende desde a primeira página, sem se afastar um
milímetro do rigor e da exigência que a documentação nos dá, “Angola – As Ricas
Donas” é a obra de referência obrigatória que vai marcar o Verão literário em
Portugal.