por João Aníbal Henriques
Num 10 de Junho marcado pelo
desmaio do Presidente da República, Cavaco Silva, em se pretendia comemorar o
Dia de Portugal e dos Portugueses, assistimos tristemente ao estado de vazio
exemplar a que deixaram chegar Portugal.
A cerimónia comemorativa,
preparada ao pormenor, foi pensada para a praça principal da cidade da Guarda
na qual, em frente à extraordinária fachada da Sé, se conjugavam todas as
condições cenográficas para tão importante ocasião.
Mas, estranhamente, destas cerimónias
ficou arredado o público – leiam-se os Portugueses – que foram impedidos de
aceder àquele espaço. Esta decisão, que nenhuma entidade oficial se dignou
explicar, ficou naturalmente a dever-se ao medo da contestação popular. Afinal,
no Dia de Portugal e dos Portugueses não é suposto ouvir-se a voz dos próprios…
E, com o desmaio de Cavaco a
encher televisões e capas de jornais, fica reduzido ao sorriso cínico do sindicalista
perverso perante a adversidade do Chefe de Estado, o estado a que conduziram
Portugal.
Sem povo e sem Portugueses, este
dia foi somente mais uma oportunidade para o confronto desonroso dos partidos e
dos poderes que controlam Portugal, digladiando-se numa luta que coloca os seus
interesses à frente dos interesses do País e gerando uma onda de
insignificância que se traduz na abstenção eleitoral que todos bem conhecemos e
num ódio crescente que ontem todos verificámos.
Dirão que é este o Portugal que
temos. Não é verdade.
Este Portugal que encheu a
comunicação social, do qual ficaram arredados os Portugueses, é um Portugal
artificial, desinteressante, promíscuo, insignificante e reles. É o Portugal do
rotativismo eleitoral em que vivemos e que eles teimam em continuar a chamar
democracia. Um regime que não respeita os Portugueses, os seus sentimentos e as
suas necessidades. Um regime fechado sobre si próprio e a sugar dia após dia,
os últimos laivos de uma grandiosidade que a Pátria ainda tem mas que eles
estão quase a conseguir matar.
O que ficou deste 10 de Junho?
Nada. Infelizmente para Portugal.