Rebentou na última semana um dos maiores escândalos de sempre
em Portugal. Com mais de uma dezena de envolvidos escolhidos de entre alguns
dos mais altos funcionários do Estado, este escândalo mostra aos Portugueses um
novo nível de corrupção, mais em linha com um qualquer romance de cordel do que
com a triste história que actualmente caracteriza este país em que vivemos.
Infelizmente, depois do enredo que envolveu o mais
escandaloso início de um ano lectivo em Portugal; da incrível estória
protagonizada pelo Ministério da Justiça e dos seus inventados sabotadores
encomendados que paralisaram os tribunais e a própria justiça durante muitas
semanas; do extraordinário caso de falência do Grupo Espírito-Santo, com as incompreensíveis
intervenções do Banco de Portugal, do Governo e do Presidente da República; da
odorífera facada nas costas dada no líder do PS pelo seu correligionário
socialista que ainda é presidente da Câmara Municipal de Lisboa; da cisão
absurda e tremenda na já de si liderança bicéfala do Bloco de Esquerda; da
maravilhosa estória da decisão irrevogável do Presidente do CDS; do
abrasileirado escândalo da destruição da Portugal Telecom, acompanhado pelos
prémios chorudos que foram dados aos que cavaram a sepultura daquela empresa
estratégica para Portugal; de um Presidente da República que tibuteantemente
mostrou não estar interessado em intervir directamente nos destinos do nosso
Estado e de um Governo que assobia alegremente perante o descalabro geral que
caracteriza Portugal, pouco ou nada resta para dizer, pensar ou discutir neste
nosso desgraçado país…
A dose de irrealismo, que dantes se comparava ao caos que se
instalou durante a primeira república mas que actualmente já o ultrapassou
largamente, transformou Portugal numa espécie de grande arena de circo na qual
tudo pode acontecer.
Já ninguém se espanta, nem ousa sequer criticar ou contrariar
as desvairadas decisões de quem detém o poder. Para quê?...
E, se a nível estatal as coisas atingiram um descrédito que é
transversal a todos os partidos e a todos os sectores de actividade, a nível
local a situação não é diferente. Presidentes de câmaras legitimados pelos votos das eleições de
2013, põem e dispõem da coisa pública como se ela fizesse parte do seu pecúlio
pessoal. Os balcões das empresas municipais, repletos de faces airosas oriundas
das juventudes dos partidos onde trabalharam gratuitamente em troca de um
emprego, são uma espécie de pastos onde a maralha divide o pouco que Portugal
ainda consegue produzir.
E quem pode pensar em criticar esta gente? Ninguém! Pois se é
tudo assim… se todos fazem o mesmo… se ninguém assume as consequências dos seus
actos e se à boca cheia se regurgita a máxima de que quem não come é parvo!...
O certo, para alguém que ainda gosta de Portugal e que
acredita que ainda é possível salvar a herança que recebemos dos nossos avós ao
longo de mais de oito séculos, é que já pouco ou nada há a fazer. Pelo menos de
dentro desta máquina de devastação onde os equilíbrios são precários e as
dependências são transversais a toda a gente.
Entretanto, enquanto lá fora as estações vão passando,
cruzando eleições futuras com os muitos interesses que todos sabem que dão
forma ao nosso Estado, continuam um espectáculo deprimente que todos somos
obrigados a ver e a financiar.
Os Portugueses estão anestesiados, incapazes até de reagir ao
que no estão a fazer. E ainda bem que assim é! Porque senão seria insuportável
a dor perante o desrespeito atroz perpetrado por esta gente.