por João Aníbal Henriques
Em 1907,
no final de um quente dia primaveril, foi solenemente recriada a Irmandade de
Santa Cruz e Passos de Vizeu, cujo compromisso foi assinado no ano seguinte em
cerimónia que decorreu na mesma cidade beirã.
O fundador da instituição foi o Bispo
Gonçalo Pinheiro, natural de Setúbal, que foi nomeado para a capital da Beira Alta
em 1553, onde ficou até ao ano da sua morte, que aconteceu aos 77 anos em 1567.
Durante
este longo lapso de tempo, Sua Eminência notabilizou-se por várias obras de
índole religioso e social em Viseu, tendo deixado marca indelével nos contornos
da cidade que hoje conhecemos.
Preparando
a sua morte, concebeu e mandou construir uma capela funerária, na Sé de Viseu,
que destinou para seu túmulo pessoal. Para tal, alterou a configuração original
do templo e mandou reedificar com o nome de Capela da Cruz a antiga capela de
São Sebastião. Mas, tendo falecido antes da conclusão das obras, foi já o seu
sobrinho, Miguel Cabedo de Vasconcellos, desembargador da Casa da Suplicação,
quem se encarregou da finalização dos trabalhos, para ali tendo transportado o
caixão onde descansava o corpo do tio. Pouco tempo depois, foi também ele o
responsável pela criação original da Irmandade de Santa Cruz e Passos, cuja
sede ficou instalada na dita capela funerária onde ficara o antigo Bispo da
cidade.
Cerca de
três séculos depois, já em 1855, foi restabelecida a irmandade e criado novo
compromisso que determinava a transladação da veneranda imagem do Senhor dos
Passos desde a antiga Capela da Cruz para a renovada Igreja de São Miguel, que havia
sido cedida à irmandade pelo então Cabido da Sé de Viseu.
Na
cerimónia de recriação do acto, efectuada a 11 de Abril de 1907, foi assinado o
compromisso definitivo, pelos 246 Irmãos presentes, tendo sido eleitos os
corpos directivos da instituição. Como Provedor foi eleito Luiz Ferreira de
Figueiredo; como Secretário, José de Almeida Marques; como Tesoureiro, António
Gião Guimarães; como Procurador, António Augusto da Costa e Liz; como Mordomo,
António de Figueiredo Caessa; e como Deputados, José Ferreira Baptista e João
Maria d’Almeida.
Henrique
Simões Felgar, industrial têxtil sedeado na Ribeira de Viseu, tomou posse como
Irmão da Irmandade de Santa Cruz e Passos de Vizeu, com o número 1541, tendo,
de acordo com os estatutos em vigor nessa época, tomado igualmente posse a sua
mulher, D. Maria Ermelinda Queiroz.
Com este
acto solene, a que não era estranha a imensa devoção de Henrique Felgar pelo
significado profundo da Santa Cruz e pelo peso institucional do Senhor dos
Passos, em cuja procissão anual participava activamente, reforçaram-se os laços
entre o industrial Poiarense e a cidade onde se estabeleceu.