segunda-feira

O Palácio da Bolsa no Porto




por João Aníbal Henriques

Quando se observa pela primeira vez o edifício do Palácio da Bolsa, no Porto, estranha-se a imponência de uma construção ecléctica, que baralha os estilos e se impõe na paisagem através de uma escala imensa que contrasta com a arquitectura tradicional da cidade.

De facto, com o Rio Douro literalmente a espreitar pelas ruelas que dão acesso à Ribeira, o Palácio da Bolsa deixa vislumbrar a magnificência de um velho palácio inglês, marcado aqui e ali pelas linhas clássicas das velhas e ostensivas construções pombalinas na baixa lisboeta.

Misturando estilos e procurando um efeito cénico que estivesse em linha com a importância que o comércio sempre teve na definição da estrutura urbana da Cidade do Porto, o actual Palácio da Bolsa é um edifício recente, tendo começado a ser construído em 1842 com base num projecto traçado por Joaquim da Costa Lima. Na sua fachada virada a nascente, assumem especial importância as linhas neoclássicas que aproveitam o declive natural da paisagem e que transformam a colunata que suporta a sua entrada monumental, numa espécie de palco cerimonial que se prolonga através da torre do relógio que a encima.




O carácter cénico do edifício, que tem como principal função impor na paisagem a marca de poder dos comerciantes da invicta, é bem visível não só na recuperação de valores arquitectónicos revivalistas na sua fachada monumental, como também na decoração interior e nos valores assumidos em diversas das suas salas principais. Dando corpo à escadaria principal, também ela de impacto efectivo na definição do espaçamento interior, o Pátio das Nações, cercado de um claustro deambulatório totalmente anacrónico e que serve de forma eficaz a necessidade de reforçar a função política do edifício, recria o ambiente de requinte que ainda hoje é visível na generalidade dos grandes jantares de gala e dos eventos que ali acontecem.

Dignos de referência especial, até porque é deles a responsabilidade artística dos mais interessantes aspectos da sua decoração interna, são as participações dos cenógrafos Manini e Pereira Júnior, responsáveis pela definição estéticas das funcionalidades do palácio, bem como a decoração exuberante da Sala Árabe ou do Tribunal do Comércio que compõem o cenário de pompa que o Palácio da Bolsa recria.

Terminado já em 1910, quando em Portugal (e também no Porto) se sentiam os laivos da chegada do novo regime político, o Palácio da Bolsa caracteriza-se pelo seu carácter revivalista, como se no passado romântico que cada detalhe decorativo determina, residissem as raízes do poder efectivo que os comerciantes tiveram e têm na cidade.

Aberto ao público, vale a pena visitar o Palácio da Bolsa. Não só pelas características do edifício e pela sua monumentalidade, como também para observar aquilo que, não sendo, ele tem capacidade para recriar no imaginário do Porto. Uma preciosidade!