A inauguração do CascaisVilla, em Novembro de 2001, representou o culminar de uma verdadeira revolução urbanística em Cascais. A substituição da antiga Rua Padre Moysés da Silva, com os seus saudosos relvados sempre bem cuidados, pela nova Avenida Dom Pedro I, com o seu perfil de via rápida em pleno coração da vila, inverteu por completo a urbanidade de Cascais, transformando drasticamente a velha e charmosa urbe em mais um moderno e incaracterístico subúrbio de Lisboa.
A nova porta de Cascais, encabeçada pelo popularíssimo “Titanic”, foi projectada para facilitar a entrada de automóveis na vila, deixando para segundo plano as preocupações com os peões e com o carácter antigo desta vila tão especial. As quatro filas de trânsito paralelas, atravessadas somente por quatro míseras passadeiras de peões, promovem a velocidade automóvel e dividem literalmente a velha povoação em duas partes desiguais.
Os semáforos foram pensados para deixar os nervos em franja a qualquer incauto passeante. O intolerável tempo de espera para os peões, aliado à falta de sincronização entre as passagens, faz com que a travessia da avenida demore tanto tempo que a maior parte das pessoas acaba por corajosamente atravessar com sinal encarnado pelo meio dos carros. Quando colocados perante a morosidade dos semáforos, os estrangeiros que ali chegam pela primeira vez e todos aqueles que não conhecem este pesadelo suburbano de Cascais, concluem geralmente que estes estão avariados e também eles empreendem a perigosa passagem…
E como se tal não fosse suficiente, decidiu-se juntar à confusão uma espécie atabalhoada de central de camionagem que, localizada no piso inferior do centro comercial, usufrui de um acesso literalmente encaixado à força e de forma abastardada no projecto inicial, criando uma zona de trânsito semi-condicionado e muito inseguro que poucos percebem e que ajuda a fomentar a precariedade de todo o espaço.
Mas, não bastando o carácter inusitado de toda esta situação, o recém-aprovado PDM de Cascais, ainda promove o agravamento da situação (Ver AQUI). Os parâmetros urbanísticos previstos para este local, ao invés de reverterem a situação e de devolverem a Cascais a dignidade urbana própria que a vila merece, multiplicam este carácter suburbano, potenciando o aumento da construção.
Poder-se-ia dizer que toda esta situação poderia ser facilmente resolvida a bem de Cascais e da sua população. E é verdade. Mas, embora as críticas sejam muitas e o rebuliço partidário se acenda a cada 4 anos, o certo é que ninguém ousou fazer as coisas de maneira diferente.
A Vila de Cascais, que durante muitas décadas foi local de charme e de reconhecida qualidade urbana e comercial, vem-se transformando aos poucos em mais um subúrbio desinteressante e incaracterístico de Lisboa. Os danos colaterais, bem visíveis no paulatino desaparecimento do comércio tradicional e no aumento da insegurança urbana, afectam a qualidade de vida de todos os Cascalenses, comprometendo a vocação turística municipal.
Mas, ao que parece, é mesmo esta a infeliz opção…
Passadeiras? Para peões?...
As quatro passagens de peões existentes nesta via-rápida são insuficientes e foram desenhadas para potenciar o tráfego automóvel. O tempo de espera para peões, agravado com a falta de sincronização das mesmas, faz com que para muitos a única opção seja o atravessamento com luz encarnada, pondo em risco a sua vida e a daqueles que circulam nos carros. É intolerável!