A vida é feita de memórias e de recordações. Situadas para
além da matéria e independentes dela, as memórias que carregamos transportam
consigo a magia associada ao acto de reviver momentos, situações, pessoas e
locais que muitas vezes não existem já. Os mágicos, neste Mundo tão linear, são
aqueles que possuem a capacidade de gerir emoções, fomentando memórias e
subvertendo a realidade.
Isabel Valadão, autora do romance histórico “Loanda –
Escravas, Donas e Senhoras” (Editora Bertrand 2012) é mágica. Condiciona o
tempo e tem o dom de nos fazer recuar à Cidade de Luanda, em Angola, em pleno
Século XVII. Um espaço pleno de sons, aromas e cores, no qual escravos,
degredados e senhores partilham destinos, como se não houvesse tempo e como se
o tempo não nos conseguisse tocar.
A arte de contar uma estória e, sobretudo, a capacidade de o
cruzar com a História, requer um talento difícil de encontrar. Isabel Valadão
faz isso sem esforço, de uma forma que raia a magia, carregando-nos o tempo e
obrigando-nos a partilhar memórias que sentimos verdadeiramente mesmo sem lá
termos estado.