É óbvio que as edificações, sejam elas quais forem, bem como todo o
património existente, quer ele seja intelectual, cultural ou artístico, fazem
parte integrante da vivência de um local ou de uma determinada zona, pois detém
determinadas características que relatam a evolução dos tempos, em resumo, a
sua história!
Cascais tem sido, ao longo dos tempos, um caso flagrante de desinteresse
para as entidades oficiais no que respeita a essa característica própria “o
nosso património”, onde, o que tem vingado sempre como “argumento de venda”,
são as praias e o jogo…
Senão vejamos, em 1998, aquando do início da discussão pública acerca do
novo PDM, a Fundação Cascais procedeu à organização de um “Levantamento Exaustivo”
de edifícios com interesse público para a consolidação da identidade municipal.
Quando fi terminado esse trabalho, cerca de cinco anos depois do seu início, já
muitos dos mais importantes móveis entretanto edificados tinham desaparecido ou
estavam em vias disso. A pressão urbanística, os muitos interesses que sempre
se sobrepuseram aos interesses legítimos de Cascais e dos Cascalenses, ditaram
que o processo de aprovação das várias demolições acontecesse com grande
rapidez. Ta foi o caso, por exemplo, palacete
onde vivia a Condessa D´Edlla na Parede, da Casa Dário Dinis o centro de Cascais
ou da malfadada Moagem de Carcavelos e de tantos outros que por força desses
interesses vários acabam por sucumbir.
Mas esta prática absurda já vem de há muito tempo. As Grutas de São Pedro
são um bom exemplo disso, pois embora nunca tenham sido exploradas
turisticamente ou educacionalmente, hoje tornou-se impossível a sua
recuperação, em virtude de um pretenso plano de requalificação do espaço ditado
pela pena sábia de uns quantos iluminados que se sentam nos Paços do Concelho. Para
que serviu esse levantamento se continuamos a delapidar parte da nossa vivência
e a nossa história viva? Que turismo teremos sem sermos capazes de preservar a
nossa identidade local?
Ao longo das últimas décadas, principalmente desde que se extinguiu a marca
“Costa do Sol” a região de Cascais, passou a ser um destino com Sol, mas não de
praia. Situada no tal triângulo cultural que se compõe a partir dos concelhos
de Sintra, Cascais e Lisboa, que facilmente se percebe que oferecem uma
panóplia de riquezas culturais com as quais a nossa terra não consegue ombrear,
Cascais vai perdendo importância e significado, não tendo conseguido impor uma
nova ordem e uma nova realidade para inverter esta tendência negativa que a tem
vindo a afectar.
Com a recente extinção da marca turística “Estoril”, que arrastou consigo a
já marcante “Costa do Estoril”, deu-se a machadada final num sector que foi
pujante ao longo dos últimos 100 anos, e a partir do qual se consolidou a
vocação e a própria identidade local.
Conhecer o património de Cascais, reconhecendo a sua importância ara a
definição da identidade Cascalense, é um passo essencial em direcção à
cidadania activa de que tanto necessitamos e pela qual pugnamos há já demasiado
tempo. Só cidadãos conscientes, que possam intervir de forma dinâmica nos destinos
do Concelho, poderão condicionar a nossa classe política de forma a que ela
coloque os interesses de Cascais à frente dos seus. Isso, como é evidente, só se
consegue atingir se formos capazes de perceber quem somos e como evoluímos ao
logo dos últimos tempos.
Mas nem tudo é teoria neste descalabro em que se transformou a política
local. Basta entrar num qualquer site de internet dedicado à promoção de
Cascais para se perceber a pouca importância que a memória local tem. Onde
estão as casas, as estórias e a História deste local? Onde estão as inúmeras
mais-valias que Cascais possui e pode oferecer, e que são essenciais para que a
vocação turística municipal seja assumida e para que esta região possa ser
alternativa de qualidade na oferta turística Nacional?
Na realidade, é necessário e urgente requalificar turisticamente Cascais, dando
a conhecer a sua vertente Patrimonial que engloba as vertentes Culturais,
Arquitectónicas e Artísticas, pois só desta forma, poderemos defender e
preservar as riquezas deixadas pelos nossos antepassados.