por João Aníbal Henriques
A grave crise que vem
afectando o País, com implicações em milhares de pessoas e em diversos sectores
de actividade, também trouxe perspectivas menos boas para o Concelho de
Cascais.
O sector turístico, ou seja,
aquele que suporta a tão propagada Vocação Municipal, acabou por ressentir-se
da decisão política assumida pela Câmara Municipal de Cascais de extinguir a
centenária marca internacional “Estoril”, e o seu parque hoteleiro, que aguarda
ansiosamente boas notícias ao nível da promoção da região para empreender uma
vultuosa campanha de modernização das suas principais estruturas, acabou por se
resignar às circunstâncias.
Para grande pena da
generalidade dos Cascalenses, a maioria das outrora excepcionais unidades
hoteleiras cascalenses já não existe.
Do Hotel Miramar ao Hotel
Itália; passando pelo Hotel Nau, pelo Monte Estoril Hotel, ou pelo Hotel
Estoril-Sol; muitas são as unidades que, mercê da sua antiguidade e da
necessidade de investimentos que lhes permitissem uma adaptação aos modernos
conceitos de qualidade, se viram obrigados a encerrar, enviando para Lisboa,
Oeiras e Sintra os seus principais clientes.
As cinco estrelas de outros
tempos, ou sejam, o símbolo de qualidade que atraía clientes com capacidade
financeira para consolidarem o tecido empresarial local, dando ensejo ao
comércio e aos serviços a ele associados, foram hoje substituídos por novas
unidades que, apesar da sua reconhecida qualidade, precisam urgentemente de se impor
nos mercados internacionais. Com excepção de pequenas unidades de extrema
qualidade reconhecida por muitos anos de excelente trabalho a receber quem nos visita, como é o caso do Hotel Albatroz ou do
Hotel do Guincho, as novas cinco estrelas do nosso Concelho passam grandes
dificuldades para se imporem no mercado, ao mesmo tempo que deixam para trás
hotéis ocupados maioritariamente por ‘packs’
de turistas de ‘pé-descalço’, sem
dinheiro para gastar, e que conspurcam os nossos jardins com os restos
ressequidos das sandwiches compradas
nos hipermercados que os alimentam durante a estadia.
A opção de um turismo de
qualidade, assumida por Cascais logo nos finais do Século XIX, está hoje
comprometida politicamente. Apesar de todos a assinalarem como espécie de farol
que guia aqueles que nos governam, e de essa opção surgir nos programas
eleitorais de todos os partidos, são cada vez mais raros aqueles que sabem o que
se deve fazer para a atingir, em contraponto com os actuais responsáveis políticos
de Cascais que estão convictos de que o caminho é o da suburbanidade e da
extinção dos velhos pergaminhos da região.
A inexistência de uma visão
de conjunto, que permita articular as inúmeras assimetrias que actualmente
caracterizam o Concelho de Cascais, acaba por comprometer a consolidação da
nossa vocação. A revisão do PDM que está actualmente em curso, atroz se
pensarmos que oficializa o discurso e a postura oficial, é um importante contributo para a
completa subversão de Cascais e para o
assumir desta região como um efectivo dormitório incaracterístico da Grande
Lisboa.
Precisamos cada vez mais de um
fluxo turístico que assuma Cascais como destino, e que visite esporadicamente
Lisboa, Sintra e Mafra; precisamos de uma rede de operadores que promova lá
fora as inúmeras mais valias deste Concelho… precisamos de um poder político
que conheça e compreenda a região e que tenha a capacidade para gerir as
inúmeras mais valias de Cascais e da Costa do Estoril.
Só que, por outro lado, precisamente
também de uma intervenção requalificante nos nossos centros urbanos;
precisamos de acabar com a proliferação de construções clandestinas; precisamos
que criar um verdadeiro parque natural; precisamos de gerir convenientemente o
nosso tráfego; precisamos de lugares de estacionamento; precisamos, enfim, de
qualidade de vida para todos os Cascalenses.
Só assim, quando Cascais
estiver devidamente organizado, podemos aspirar a obter novamente o cunho de
qualidade que foi desaparecendo a partir de 1974.
E depois do adeus que vamos
dizendo à qualidade que nos caracterizou ao longo dos últimos cem anos,
resta-nos esperar que as eleições autárquicas deste ano nos tragam a vontade
política permita gerir de forma conveniente e integrada este nosso Concelho de
Cascais.