por João Aníbal Henriques
Monumento maior da Cidade de
Lisboa, marcando de forma muito evidente o eixo principal da Baixa Pombalina, o
Arco Monumental da Rua Augusta é um dos elementos mais impactantes da estrutura
simbólica que dá forma à Praça do Comércio – antigo Terreiro do Paço – e que
define a orientação da nova cidade.
Tendo feito parte do projecto
original de recuperação da Cidade de Lisboa depois do grande terramoto de 1755,
o Arco da Rua Augusta era uma das peças principais traçadas pela dupla Manuel
da Maia e Eugénio dos Santos, que o Marquês de Pombal aprovou de imediato,
tendo sido iniciada a sua construção logo em 1759.
Vicissitudes diversas, no
entanto, ditaram várias mudanças ao projecto, sendo que em 1777, logo depois da
inauguração da Estátua Equestre do Rei Dom José, a construção original foi demolida,
tendo-se iniciado um processo moroso que introduziu várias alterações profundas
na ideia inicial. Depois da morte do Rei, da subida ao trono da Rainha Dona
Maria I e da demissão do Marquês de Pombal, só em pleno Século XIX, já em 1815,
é que se colocaram os enormes pilares em pedra de Pêro Pinheiro que dão forma
ao monumento actual.
Durante muitos anos, como se vê
nas inúmeras fotografias dos finais do século, o arco manteve-se aberto, sem a
cúpula escultórica que hoje ali vemos, até que em 1844 Costa Cabral aprovou o
renovado projecto de cunho romântico da autoria do Arquitecto Veríssimo José da
Costa.
O conjunto escultórico superior,
da autoria do arquitecto Anatole Calmels – que também foi responsável pelo
varandim do edifício dos Paços do Concelho – representa a glória, o génio e o
valor, compondo um quadro que encaixa de forma perfeita na simbologia latente
na significação de índole sagrada que surge associada à própria estátua real. O
conjunto inferior, da autoria de Vítor Bastos, inclui as figuras que deram
forma à História de Portugal, nomeadamente Viriato, Nuno Álvares Pereira, Vasco
da Gama e o próprio Marquês de Pombal.
O carácter sagrado do monumento,
a que não é estranha a concepção da própria praça, surge em linha com o
significado profundo do Cais das Colunas e com a ligação às três artérias que
convergem para o Rossio: o Ouro, a Prata e a Rua Augusta.
Para o investigador Vítor Adrião
(Lusophia) a
Praça do Comércio é um decalque quase perfeito da Basílica de Mafra, estando o
Altar-Mor no local onde em Lisboa se encontra a Estátua Equestre e o Santíssimo
no mesmo sítio onde originalmente se encontra o arco e questão.
Reforçando a ideia de que o valor
deste monumento reside muito mais no seu simbolismo do que na monumentalidade
que hoje lhe atribuímos, esta teoria ajuda a explicar a escala única de todo o
espaço e, especialmente, a dimensão quase inusitada que o arco assume na
totalidade do conjunto.
Recuperado ao longo dos dois
últimos anos, o Arco Monumental da Rua Augusta está hoje acessível ao público
que o pode visitar mediante o pagamento de um bilhete de 2,50 €, dali obtendo
uma perspectiva panorâmica fenomenal de todo o quadriculado que dá forma à
Baixa Lisboeta.