quarta-feira

O Palácio das Janelas Verdes / Museu Nacional de Arte Antiga



por João Aníbal Henriques

As estórias que dão forma à História de Lisboa, tantas vezes passadas oralmente e transcritas no imaginário colectivo da cidade, surgem por vezes associadas a espaços, a edifícios e a monumentos que, contrariando a curva do tempo, perpectuam para a posteridade as memórias mais impactantes da Capital de Portugal.

É o que acontece com o Palácio das Janelas Verdes, onde actualmente funciona o Museu Nacional de Arte Antiga, situado na Rua das Janelas Verdes, em Santos.

Construído em 1690 por Dom Francisco de Távora, Conde de Alvor e antigo Vice-Rei da Índia, o Palácio das Janelas Verdes aparece sobranceiramente sobre o Rio Tejo, num espaço partilhado com a Rocha de Conde de Óbidos e o palácio com o mesmo nome.

A sua ligação à Família Távora, que aparece bem vincada nas memórias da cidade é, no entanto, muito breve, pois em 1759, com o controverso “Processo Távora”, a família foi executada publicamente e o palácio confiscado e vendido em hasta pública.

Por ironia do destino (ou não) foi adquirido por Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão de Sebastião de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e… Marquês de Pombal. E para agravar a situação, foi precisamente o Primeiro-Ministro de Dom José e principal algoz dos Távoras quem, por morte do irmão e proprietário do edifício, acabou por herdá-lo e por o integrar no  seu património particular.

Em 1884 o palácio foi alugado pelo Estado Português, e ali se instalou o Museu Nacional das Belas Artes. Mais tarde, já durante a vigência do Estado Novo, foi demolido o antigo Convento das Albertas, situado a Poente das Janelas Verdes, e alargado o espaço do museu. Foi nessa altura que assumiu a identidade que hoje conhecemos – Museu Nacional de Arte Antiga – tendo-lhe sido acrescentado o corpo quadrangular que hoje serve de fachada ao museu e que foi inaugurado com a grande exposição sobre os “Primitivos Portugueses”.



Bem preservado e enriquecido com o espólio deste extraordinário museu, o Palácio das Janelas Verdes é um dos bons exemplos da preservação das memórias da Cidade de Lisboa e de Portugal continuando a contribuir para maravilhar quem visita Lisboa e para a definição dos alicerces culturais de Portugal.


Acessível ao público, mantém viva a memória dos Távoras, do ignominioso processo que quase os extinguiu definitivamente e, sobretudo, das maningâncias que o poder político utiliza para pôr e dispor do destino dos Portugueses… No Século XVIII, no XIX, no XX, exactamente da mesma forma como acontece neste nosso Século XXI.