Com 84 anos e idade, faleceu esta
semana uma figura ímpar da Portugalidade. Carlos Antero Ferreira, Arquitecto,
Professor e Poeta, era Académico Honorário da Academia de Letras e Artes e
desempenhava ilustremente funções como Presidente da Assembleia Geral desta
instituição.
Na sua dimensão material, o Ser
Humano vive constrangido pelo binómio espácio-temporal que determina a sua
existência. O nascimento, a vida e a morte, num desígnio inexorável que traga
todos da mesma maneira, caracterizam a existência do comum cidadão, cuja vida
se esgota num determinado lugar e num determinado tempo.
Mas existem alguns que, pela
genialidade da sua existência, conseguem transcender o espaço e o tempo,
alcançado uma imortalidade que os perpetua na sociedade de forma transversal e
que estende a sua influência ao longo das eras.
Foi o caso do Professor
Arquitecto Carlos Antero Ferreira.
Num exercício permanente de
genialidade, carregava consigo uma erudição sem limites. Mas, ao contrário do
que acontece com outros, cuja soberba naturalmente se impõe pela grandiosidade
do seu pensamento, impunha a sua existência num plano humanista que o colocava
naturalmente ao nível da comunidade onde sempre foi tão importante. Sendo o primeiro
pela dimensão e excelência do seu trabalho, partilhava naturalmente com os seus
amigos e colegas a sublimidade de um artista que só a imensa maturidade do seu
génio pode explicar, augurando uma sensibilidade única que transpirava no
contacto pessoal, nos livros que escreveu, nas conferências que proferiu e nos
imensos desafios profissionais que dele fizeram uma das grandes personalidades
da cultura nacional.
Carlos Antero Ferreira, que foi
Presidente do Centro Cultural de Belém, Presidente do Instituto Português do
Património Cultural, Presidente da Academia Nacional das Belas Artes, Professor
Catedrático e fundador da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, Director da
Sociedade de Geografia de Lisboa, Fundador da National Geographic Society e
Senador da Universidade Técnica de Lisboa, de entre muitos outros cargos e
funções de um currículo riquíssimo que demonstra o seu pragmatismo e capacidade
de fazer, foi sobretudo um dos principais obreiros da Portugalidade, deixando
um imenso vazio que dificilmente poderá voltar a encher-se.
Ávido de saber e de novos
conhecimentos até ao final da sua vida, num exercício pleno do seu carácter de
sábio maior que tão bem desempenhou, Antero Ferreira alcançou a sublimidade do
seu génio através da poesia e das artes, nas quais se elevou a patamares de excelência
inigualáveis, só possíveis pela humildade natural da sua sabedoria e pela
permanente vontade de aprender com tudo e com todos.
Eterno na grandeza da sua obra e
do seu génio, o Professor Antero Ferreira deixa atrás de si uma saudade que
ilustra bem o pesar que a sua morte física representa para Portugal e para os
Portugueses.