O Vale da Ribeira das Vinhas,
acessível a partir das traseiras do edifício do mercado, foi durante milénios
um canal privilegiado de mobilidade para os Cascalenses. Era através dele,
quando a vila dependia de forma directa do trabalho árduo e suado dos saloios
que exploravam as pequenas unidades agrícolas situada no termo municipal, que
chegavam a Cascais os legumes, as frutas e o leite que se produziam nas antigas
aldeias rurais do Cobre, Murches, Zambujeiro, Malveira-da-Serra ou Janes. Era
também através do caminho de pé-posto que acompanhava o serpentear das águas da
ribeira, que as lavadeiras transportavam as roupas dos Cascalenses, num ciclo
de interdependência que deu corpo à Identidade Municipal.
Ao nível dos costumes e das
tradições, assim como nas crenças, nas práticas religiosas e na Fé, os
Cascalenses construíram uma memória colectiva que reproduz um sentimento vivo e
arreigado de Cascalidade. E grande parte desses usos e costumes, repetidos de
forma reiterada ao longo de centenas de anos, concretizaram-se neste espaço extraordinário.
Paulatinamente abandonadas as
pequenas explorações agrícolas que aí existiram até meados da década de 80 do
Século passado, o Vale da Ribeira das Vinhas foi perdendo a sua importância no
seio da comunidade Cascalense. As memórias antigas que integrava, foram-se
apagando na medida em que iam morrendo os Cascalenses antigos que davam vida ao
lugar, ao ponto de serem hoje muito poucos aqueles que conhecem este recanto
encantado de Cascais.
Apesar disso, o Vale da Ribeira
das Vinhas é ainda um dos locais de maior potencial para a Nossa Terra. Para
além de ser uma via de comunicação acessível e confortável entre o centro da
vila e os bairros periféricos, como o Bairro dos Pescadores, o Bairro da Caixa
de Previdência, o Bairro da Assunção, a Pampilheira, o Cobre, o Zambujeiro,
Murches, Alvide, Bairro Irene ou as Fontaínhas, permitindo transformar uma ida
ao mercado, à praia ou à estação numa curta e inesquecível caminhada, o
património histórico e natural ali existente, bem como a envolvente antropológica
do local, poderiam ser facilmente aproveitados em favor do fomento da nossa
identidade.
Assente no pressuposto de que a
intervenção a realizar na Ribeira das Vinhas deve assumir um carácter
minimalista, reduzindo ao mínimo o investimento público e rentabilizando os
muitos equipamentos potenciais que ali subsistem, a nossa proposta passa pela
recuperação do antigo caminho pedonal, integrando-o no património edificado ali
existente, nomeadamente as azenhas, os moinhos e as várias estruturas agrícolas,
complementado com a criação de uma bolsa de hortas urbanas que deveriam ser
entregues à população. Nas componentes lúdica, pedagógica e turística, é
essencial a recuperação das Grutas de Alvide e a recriação de vários trajectos
pedonais e cicláveis associados à participação das escolas, associações juvenis
cascalenses e aos agrupamentos de escuteiros.
Em ano de eleições, quando os
poderes autárquicos se mostram naturalmente menos crispados perante as
sugestões dos Cascalenses, vale a pena reforçar esta nossa proposta, convidando
todas e todos os munícipes de Cascais para que literalmente invadam este espaço
extraordinário.
A bem de Cascais!