segunda-feira

O Palácio do Infantado em Samora Correia




por João Aníbal Henriques

O Ribatejo, com a sua lezíria verdejante e as águas pressentidas do Tejo sempre no horizonte, exerce um ancestral atractivo sobre as comunidades humanas. Desde tempos imemoriais, provavelmente desde que existe um homem sobre a Terra, que a actual província do Ribatejo é habitada, nela tendo ficado os vestígios e as marcas de muitos milhares de anos e de gerações sobre gerações que nela se deleitaram ao longo do tempo.

É, pois, essa mesmo a explicação para o nascimento de Samora Correia. Elevada à categoria de cidade em 2009, e mantendo-se como cabeça de uma das principais freguesias do Concelho de Benavente, Samora Correia acompanha o processo de reestruturação e açoreamento do Rio Tejo, em cuja margem esquerda está implantada, alcançando assim as condições que permitem u assentamento humano mais permanente. A partir do Século XII, quando Dom Sancho I entregou o seu território nos domínios da Ordem Militar de Santiago da Espada, Samora Correia conheceu as suas primeiras grandes construções, nomeadamente o Baluarte de São João Baptista e a primeira versão daquela que é hoje a sua Igreja Matriz.




As terras de Samora eram, naqueles idos antigos em que Lisboa era ainda uma miragem longínqua afastada pelas águas do rio, basicamente reserva de caça dos grandes senhores de Portugal, que durante bastante tempo foram a razão de ser da importância daquela terra.

A criação da Casa do Infantado, no tempo de Dom João IV, com o objectivo de garantir rendimento para os filhos segundos do monarca, marca o principal ponto de viragem na História de Samora Correia. A partir dessa altura, o seu território passa a receber a visita constante das principais figuras da vida Nacional, tornando-se espaço incontornável na definição da Identidade de Portugal.

O Palácio do Infantado, também conhecido como Palácio de Dom Miguel ou Palácio da Companhia das Lezírias, é o principal monumento de Samora Correia, representando de forma óbvia o devir quotidiano da terra e das suas gentes.




Construído na segundo metade do Século XVI por iniciativa de Dom Francisco de Bragança (1691-1742), filho do Rei Dom Pedro II, o palácio era sobretudo um porto de abrigo para os dias de caçada real de que tanto gostava o infante. Embora apresentasse uma formulação espacial diferente daquela que ostenta hoje, com um único piso que se prolongava em frente da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, o palácio era já o pólo central do processo determinante de exploração do actual território ribatejano, consolidando uma estratégia de ocupação e de exploração do solo que culminará, alguns anos depois, com a criação das lezírias tal como hoje conhecemos.

Tendo sobrevivido ao terrível terramoto de 1755, que praticamente devastou a região de Lisboa, o palácio surge nas memórias Paroquiais como tendo sido a morada principal do Infante D. Francisco.
A ligação ao partido conservador e absolutista de Dom Miguel, também ele um apreciador do cenário de caça propiciado por Samora Correia, surge já em pleno Século XIX, quando as forças do Remexido chegam ao local onde são presas pelos defensores do novo regime constitucional.




Em termos de cataclismos, o Palácio do Infantado sobreviveu ainda ao terramoto de 1909, que arrasou quase por completo as habitações muito precárias do povo de Samora Correia, tendo sido posteriormente destruído por um enorme incêndio que nele lavrou no ano de 1976. Depois dessa data e de uma série de campanhas de obras que se prolongaram até 1998, foi totalmente reconstruído tendo angariado a forma que hoje se lhe conhece.

Pólo central da vida cultural da Cidade de Samora Correia, o Palácio do Infantado, com a sua localização privilegiada no largo fronteiro à Igreja Matriz e em pleno coração do núcleo histórico consolidado da povoação, é hoje espaço incontornável numa visita do Ribatejo, ali sendo possível perceber com mais rigor a forma como se consolidou toda aquela tradicional região.