por João Aníbal Henriques
Localizado no antigo Rossio do
Moinho de Vento, nas margens do Rio Sorraia e junto ao centro histórico de
Benavente, o Cruzeiro do Calvário é uma das mais significantes obras da
monumentalidade sagrada do Ribatejo. Construído em 1644 pela Irmandade dos
Passos, num movimento assumido de caridade comunitária, representa os
equilíbrios sócio-económicos que se geraram na localidade, mercê da influência
que a Igreja Católica teve na definição dos arquétipos de pensamento ancestrais
dos que ali habitavam. Em seu torno, depois de concretiza a ritualística que
fomentava o espírito comunitário e agregava os benaventinos numa praxis comum,
desenvolviam-se então as acções de apoio aos mais necessitados. Mas, ao
contrário do que acontece com o mecenato comum nessa épocas nas grandes
metrópoles urbanas, aqui o acto de partilha converge para um ritual de partilha
que o cruzeiro atestava. A condição de vida, numa sujeição a Cristo que o
Senhor dos Passos personificava, desenvolvia-se assim de forma natural como
sendo parte integrante da própria existência. A diferenciação social, tão
importante ainda hoje na definição social do Ribatejo, ressurge desta forma no
seio da comunidade mas, ao contrário do que acontece noutros lugares, assumindo
aqui uma cumplicidade cuja origem divina ninguém ousa questionar… Perdido
actualmente nos limites da vila, numa entrega ao destino a que não é alheia uma
paulatina anomia que vai grassando entre as novas gerações, o Cruzeiro do
Calvário mantém incólume a sua importância, definindo-se como monumento maior
para quem quiser conhece e perceber a História de Benavente.