por João Aníbal Henriques
Quando Manuel Possolo nasceu, em
1910, Cascais enfrentava um dos maiores desafios da sua história. A implantação
da república, pondo fim à relação afectiva que a vila possuía com a Família
Real, condicionou o desenvolvimento da localidade, exigindo imaginação e uma
imensa capacidade de adaptação para que os novos tempos mantivessem incólume o
registo de qualidade que até aí tinha sido apanágio de Cascais.
Mas a Nossa Terra esteve à altura
do desafio. Marcando de forma extraordinária os novos tempos de Portugal, Cascais
foi capaz de se reinventar, recriando uma nova geração de Cascalenses que
souberam honrar a herança dos antepassados, ousando singrar um caminho novo ao
qual dedicaram a sua vida e que foi essencial na definição da nossa nova
identidade.
José Florindo de Oliveira,
Boaventura Ferraz, Armando Vilar, Fausto Figueiredo e Abreu Nunes foram alguns
dos vultos maiores desta época grandiosa. A vocação turística de Cascais, que a
marca “Estoril” dignamente representou, assentava no carácter único desta terra
especial e na dinâmica empresarial dos seus primeiros promotores. Mas entre
eles, com uma capacidade visionária e um espírito empreendedor fora do usual,
estava alguém que marcou definitivamente o futuro municipal…
Manuel Possolo foi um dos mais
activos membros da sociedade civil Cascalense. Enquanto director da Sociedade
Propaganda de Cascais, foi um dos fundadores do Clube Naval de Cascais e um dos
entusiastas que deu corpo às inúmeras iniciativas de propaganda da vila,
nomeadamente os concursos de montras, os bailes de angariação de fundos para
construção do hospital e da praça de toiros e os corsos de Carnaval.
A sua paixão pelos cavalos, que
começou com a transformação do fosso da Cidadela numa espécie de picadeiro que
servia para treino hípico, culminou com a realização de muitas dezenas de
concursos de saltos que transformaram os Estoris numa das referências hípicas mundiais.
Foi ele quem viabilizou a
cedência de uns terrenos que pertenciam ao Visconde dos Olivais, para ali se
construir um moderno e magnífico hipódromo onde decorreu, em 1937, o primeiro
grande concurso hípico de Cascais. A qualidade do seu trabalho foi reconhecida
em 1961, quando o Presidente da República o agraciou com a Medalha de Mérito
Desportivo, assumindo a importância que teve na promoção internacional de
Cascais através da fama de excelência e do prestígio que os concursos hípicos
que organizava traziam para a Costa do Estoril.
Quase esquecido da generalidade
dos Cascalenses, que recentemente viram uma parte substancial dos terrenos do
hipódromo transformados num inusitado parque de estacionamento (!), a memória
de Manuel Possolo perdura singelamente na designação oficial do equipamento que
criou: “Hipódromo Municipal Manuel Possolo”.
Faleceu no Carnaval de 1979 e a sua
memória cruza-se com a Memória Colectiva e com a própria Identidade Municipal.
A bem de Cascais!