por João Aníbal Henriques
Edificada dentro do parque
municipal a que dá nome, a Quinta da Alagoa situa-se muito perto do centro da
povoação de Carcavelos, no extremo Nascente do concelho de Cascais. Conjugando
dois estilos arquitectónicos distintos, uma parte do século XVI e um palacete
de finais do século XVIII, a Quinta da Alagoa pertenceu, até 1983, aos Morgados
da Alagoa, à família do Eng.º D. Vasco Belmonte. Até essa altura, mercê da
grande quantidade de vinha que possuía e da mata que envolvia quase toda a
propriedade, foi um dos locais importantes da freguesia de Carcavelos, uma vez
que era aí, mais do que em qualquer outro lugar, que se produzia o famoso Vinho
de Carcavelos, que possuía projecção internacional e que serviu de base à
criação de uma zona demarcada.
Na primeira metade da década de
oitenta do Século XX, por necessidades várias, a família de Alagoa acorda com a
Câmara Municipal de Cascais a cedência de todo o espaço. No protocolo assinado
nessa época, previa-se a manutenção de toda a zona rural, bem como a utilização
do palacete e antigo convento como espaço cultural, ao serviço da população de
Carcavelos. Ainda nesse documento, foi estipulada a adaptação de uma parte
imóvel para sede dos escuteiros locais.
Dessa data até 1986, não mais se
ouviu falar da Quinta da Alagoa, sendo que, dois anos após a transacção, o antigo
Jornal da Costa do Sol, em artigo publicado nas suas páginas, alerta as
entidades competentes para o facto de numa dessas noites ter sido completamente
destruído o recheio do imóvel, juntando mesmo uma fotografia do palacete, com
portas e janelas abertas mas ainda com telhado. A então Câmara Municipal de
Cascais, em resposta a tão categórico artigo, responde que não possuía
verbas para proceder a uma vigilância
contínua ao local, pelo que, segundo a mesma entidade, a destruição que o Jornal
da Costa do Sol mostrava nas fotografias
se ficava a dever a uma noite de vandalismo dos jovens locais!
Após a urbanização da quase
totalidade do espaço envolvente, a Quinta da Alagoa foi sujeita ao mais completo
desprezo que se prolongou ao longo de vários anos. Em 1990, uma vez mais, o mesmo
Jornal da Costa do Sol publica novas fotografias do sítio. Nesta data, para
além dos problemas já anteriormente mencionados, acrescenta-se o facto de ter
desaparecido por completo o telhado do imóvel.
Com a aproximação das eleições
autárquicas o assunto caiu no esquecimento, e a esperança de uma mudança
assolou o coração dos habitantes das redondezas. No entanto, para desespero de
todos, e embora existissem diversos projectos para o local, nada foi
concretizado, e a Quinta da Alagoa continuou ao abandono…
Em Junho de 1994,
inesperadamente, o então executivo da C.M.C. anuncia publicamente a assinatura
de um protocolo com a E.I.A. - Ensino, Investigação e Administração, visando a
construção neste local de uma universidade. O alto patrocínio do Presidente da
República, bem como a brevidade do anúncio, um dia antes da assinatura do
protocolo, veio levantar alguma celeuma, uma vez que um terreno público
passaria a ser explorado por particulares. Por outro lado, os trâmites legais
não foram completamente respeitados, como viria a ser confirmado pela
Assembleia Municipal em 01. 06. 1994, que declara a aprovação do protocolo como
ilegal, baseado no facto de este órgão não ter sido consultado antes da
assinatura do mesmo, como estava previsto na lei. A Associação de Moradores da
Quinta da Alagoa, que representava todos aqueles que compraram as suas casas nesse
local com a condição de os terrenos da velha quinta se destinarem a uso
público, também não foram consultados, tendo feito um abaixo-assinado para
travar o projecto.
Neste ano de 2017, comemoram-se
27 anos desde este triste incidente e a Quinta da Alagoa, de forma surpreendente,
mantém o estado de abandono e de ruína que a devastação dessa época lhe havia
granjeado.
Sendo repositório privilegiado
das memórias daquela localidade, nela se centrando os testemunhos ainda vivos
da exploração outrora rendosa do afamado Vinho de Carcavelos, e sendo o palácio
e antigo convento peças exemplares do Património Cascalense, será aceitável o
que por ali se continua a passar?