por João Aníbal Henriques
Está de parabéns a Câmara
Municipal de Cascais pela excelente intervenção realizada no primeiro troço da
Ribeira das Vinhas, entre as traseiras do Mercado Municipal e a Quinta do Casal
Ventoso. A recuperação minimalista da antiga serventia saloia, praticamente sem
interferências ao nível dos equilíbrios ecológicos do espaço, recupera a
ancestral ligação entre Cascais e a suas origens rurais, promovendo a memória
colectiva e a identidade municipal.
Respondendo a um desejo demasiado
antigo expresso pelos Cascalenses no sentido de se proceder à recuperação da
antiga serventia saloia da Ribeira das Vinhas, em Cascais, a edilidade
requalificou recentemente o primeiro troço do velho trilho, entre a vila e o
acesso à Pampilheira.
A intervenção, minimalista tal
como advogavam os que defendiam o projecto (Ver AQUI), permite o usufruto de
uma das mais impactantes paisagens de Cascais, descobrindo um recanto essencial
para se conhecer e perceber a História Rural Cascalense (Ver AQUI).
Antigo trilho que ligava a vila
às aldeias saloias do Cobre, Pampilheira, Murches, Birre e Zambujeiro, a
Ribeira das Vinhas foi utilizada desde tempos imemoriais como espaço de troca
entre as comunidades que subsistiam da agricultura e que se situavam na zona
mais interior do Concelho, e as comunidades piscatórias e cosmopolitas do
litoral. Era através deste caminho de
pé-posto, normalmente atravessado pelos grandes rebanhos de ovelhas que noutros
tempos marcavam o panorama económico de Cascais, que a vila se abastecia dos bens
mais essenciais, como o leite, o pão, a farinha, o queijo e as hortaliças. E
era também através dele que, em burricadas que ainda perduram na memória dos
mais velhos, as lavadeiras transportavam a roupa que lavavam nas suas aldeias.
Para além da imensa riqueza
ecológica, bem visível através das muitas espécies de animais que sobrevivem
naquele espaço, a Ribeira das Vinhas apresenta ainda um conjunto
importantíssimo de património histórico, ao qual se juntam os complexos de
grutas e uma paisagem de extraordinária beleza.
A intervenção agora concretizada
pela Autarquia é, assim, um importante contributo para o fomento da cidadania
em Cascais, com possibilidade de rapidamente se transformar num instrumento
pedagógico e educativo para as escolas onde estudam as novas gerações de
Cascalenses.
Sugestões para complementar e
melhorar a intervenção agora concretizada:
PROLONGAMENTO DA INTERVENÇÃO
Sendo excelente, a recuperação
agora concluída cinge-se aos primeiros metros da antiga serventia saloia. É
essencial que a mesma se prolongue acompanhando o leito da ribeira, numa
segunda fase até Alvide e à Quinta das Patinhas e, depois de se ligar ao Parque
das Penhas da Marmeleira, atravessando o Vale do Zambujeiro e a Quinta do Pisão
em direcção à Barragem do Rio da Mula.
RECUPERAÇÃO URGENTE DA ENTRADA
O troço existente entre as
traseiras do mercado (que agora foi designado como Rua Padre Moysés da Silva) e
o início do caminho, está num estado deplorável de abandono. Sem controlo de
tráfego e coberto de viaturas por ali estacionam sem regras nem cuidado, é um
imenso lamaçal quando chove e um mar de pó durante o tempo seco, impedindo o
acesso e o usufruto do espaço recuperado.
MOBILIDADE COMUNITÁRIA
Permitindo uma ligação muito
simples e rápida do centro de Cascais aos principais bairros da periferia, é
urgente que a intervenção seja complementada com as ligações aos trilhos de
Alvide, do Bairro de São José e do Outeiro da Vela. Para além de muitos simples
de concretizar, porque os trilhos já existem há muitos séculos, devolverão às
comunidades locais um meio acrescido de mobilidade e de acesso ao centro.