por João Aníbal Henriques
Passaram-se muitos meses desde
que o temporal do Outono de 2015 destruiu o cruzeiro, o alpendre e o adro da
Capela de São Sebastião, em Cascais. Mas, finalmente, foram efectuadas as obras
de recuperação e reposta a dignidade daquela importante peça do património
cascalense.
A Capela de São Sebastião,
construída provavelmente em 1628, atendendo à inscrição existente na base do
seu cruzeiro, possui um interessante conjunto azulejar cujas origens dispersas
não se conhecem com exactidão.
A sua localização, fora da
localidade e já muito perto da Enseada de Santa Marta, terá sido determinante
para a sua formulação arquitectónica simples, em estilo dito “chão” e para as
suas origens eminentemente ruralizantes. Situada originalmente na cerca do
antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade (actual Centro Cultural de
Cascais), seria certamente posto avançado de oração e recolhimento daquele
importante núcleo religioso da Vila de Cascais.
De acordo com alguns autores,
serão do antigo convento, que foi construído em 1594 por D. António de Castro,
então Senhor de Cascais e pela sua mulher D. Inês Pimentel, alguns dos painéis
de azulejos que hoje se podem ver na capela e nas zonas envolventes. O mais
importante, hoje colocado de forma cenicamente impactante no jardim construído
no local pelos Condes de Castro Guimarães, é precisamente a “Procissão
Alquímica” em que Nossa Senhora é transportada aos céus numa imensa carruagem
inserida num cortejo do qual fazem parte algumas das mais importantes figuras
da imagética transcendental da Portugalidade Sebástica.
O certo é que quer na figura “Civitates Urbius Terrarum” da autoria de
Georgius Branius, de 1572, quer na planta geral da Vila de Cascais, datada de
1594 e guardada no Arquivo Geral de Simancas, a pequena capela surge
expressamente representada, sendo certo, por esse motivo, que já nessa altura
fazia parte do património religioso da localidade.
Na parede do adro, com datação
provável dos finais do Século XVII, e correspondendo a uma das campanhas de
obras de remodelação que o edifício terá sofrido ao longo da sua história,
existe um painel azulejar polícromo dedicado ao Santíssimo Sacramento e, como
não poderia deixar de ser numa peça de património de índole rural, à Imaculada
Conceição da Virgem Maria. Uma vez mais, como é evidente, cerca de dois séculos
antes de o Papa Pio IX, através da bula Inneffabilis
Deus, ter solenemente definido a Imaculada Conceição como dogma, em linha com
o que acontece com as principais orientações cultuais no Portugal de então e,
especialmente, com as ancestrais tradições religiosas existentes no Concelho de
Cascais.
O orago Sebastianista da capela,
apelando ao supremo poder de Deus perante os homens e à permanente necessidade
destes de tentarem impor a sua vontade, recupera também ele os laivos dessa
paulatina degeneração dos cultos mais antigos das populações locais que, depois
de Cristianizados, acabam por integrar-se de forma definitiva no conjunto de
pressupostos sagrados que dão forma à Fé local.
A recuperação da Capela de São
Sebastião, para além de um importante contributo para a consolidação da vocação
turística municipal, que depende da existência de uma oferta significante que
concretize a Região do Estoril como um destino turístico de excepção no
contexto europeu, significa ainda o assumir da Identidade Cascalense, assente
num imaginário colectivo na qual as memórias físicas se cruzam quase sempre com
os vestígios materiais de gerações ancestrais.
É, por isso, uma boa notícia para
a Nossa Terra!