por João Aníbal Henriques
Tal como acontece com os
restantes fortes e fortificações construídos na linha defensiva da Costa do
Estoril, o Forte de São Pedro da Poça, situado a Poente do Vale da Poça, junto
ao edifício dos antigos banhos, apresenta uma localização privilegiada num
ponto no qual a importância estratégica no cruzamento de fogo com os seus
congéneres se alia a uma paisagem profundamente impactante e deslumbrante.
E, infelizmente, tal como
acontece com os restantes, encontra-se num estado de ruína inaceitável, com a
sua importância patrimonial posta em causa pela incúria das entidades ditas
competentes.
Construído depois da Restauração
da Independência Nacional em 1640, numa estratégia de refortificação da entrada
marítima de Lisboa, o Forte de São Pedro foi projectado pelo Arquitecto Mateus
do Couto, utilizando como planta o desenho geral utilizado noutras fortificações
de características semelhantes. As obras, que decorreram entre o dia 5 de Abril
de 1642 e o início de 1643, compuseram o espaço a partir do estabelecimento de
uma cortina de artilharia que atravessava a praia e estabelecia a protecção
cruzada necessária perante qualquer desembarque tentado pelas forças Espanholas
em terras de Portugal.
O pátio central, que distribuía o
espaço interno de forma muito simples, cumpria a dupla função de facilitar o
acesso às diversas frentes do forte, ao mesmo tempo que assumia a sua
componente residencial, oferecendo um espaço ao ar livre para usufruto de quem
ali morava.
Depois de vários períodos de
semi-abandono, que exigiam novas obras de remodelação, o forte atingiu uma
situação de pré-ruína em meados do Século XIX. Mas, durante a Guerra Civil,
readquiriu uma parte da sua importância estratégica e, nesse âmbito, foi
novamente remodelado de forma a adaptar-se às modernas técnicas militares desse
tempo. É desse período, numa obra que muitos consideram nunca ter sido acabada,
o paiol que se localizava no piso subterrâneo e a linha de fuzilaria que ligava
o forte ao seu congénere da Cadaveira, do outro lado da praia.
Depois de vicissitudes diversas,
que passam pela sua entrega à Santa Casa da Misericórdia e o seu posterior
arrendamento à sociedade que explorava os Banhos da Poça, foi o forte
transformado em casa de chá, já em 1954, por iniciativa da Junta de Turismo de
Cascais e, mais tarde, na primeira discoteca Portuguesa.
Congregando em torno da sua
imagem, um dos recantos oníricos dos Estoris, que para ali convergiram de forma
massiva durante os agitados anos 60 do Século XX, o Forte de São Pedro foi paulatinamente
perdendo as suas características militares de que agora só restam as suas duas
guaritas. Na fachada virada a nascente, completamente desvirtuada pela intervenção
de adaptação às funções turísticas atrás mencionadas, a bateria que cobria a
praia foi substituída por uma inestética parede de vidro que se encontra
actualmente emparedada e totalmente destruída por actos de vandalismo. Aberto o
interior, está também ele em avançado estado de degradação, sendo virtualmente
impossível perceber se existe alguma possibilidade de ser recuperado na sua
formulação espacial original.
O Forte de São Pedro da Poça, no
Estoril, situa-se no coração da mais antiga e pujante região de turismo de
Portugal. A evidência da sua localização, perto a praia, do paredão e da
entrada nobre do Estoril, faz convergir na sua direcção o olhar de todos
aqueles que por ali passeiam e, mais grave ainda, o dos milhares de turistas
que procuram na Região do Estoril o charme de outros tempos.
Classificado como Imóvel de
Interesse Público desde 1977, o seu abandono e estado de ruína eminente é, em
termos da memória de Cascais e da Identidade Municipal dos Cascalenses, um
autêntico crime que lesa os interesses deste concelho. Inadmissível nos tempos
em que vivemos!